sábado, 5 de dezembro de 2009

Medo - Vida

O medo faz parte do ser humano. É com ele que aprendemos a lidar com tantas coisas a qual somos submetidos a passar nesta vida. Mas é ele também que pode nos levar ao fundo do poço.
            Não sou a pessoa mais corajosa do mundo e nunca fui. Hoje, parando para pensar no meu futuro, fico me perguntando – “O que será de mim daqui a um tempo?”. Tenho medo do que eu ainda terei que enfrentar.
            Por mais evoluções que possa haver, o HIV ainda é uma doença misteriosa. Fiquei mal ao assistir a reportagem do SBT Repórter (http://www.sbt.com.br/videos/?catid=832), e ver que além do coquetel para o HIV, ainda há o coquetel de medicação para combater os efeitos colaterais. Não sei como lidarei isso tudo.

            Hoje eu tenho alguém ao meu lado, mas tenho medo de um dia não ter mais. Ele é saudável, pode muito bem se cansar e querer viver ao lado de alguém sem problemas algum. Tenho medo da solidão e da solidariedade. Não quero que sejam solidários comigo, tenham dó de mim, quero apenas que me amem como eu sou. Tento ao máximo não fazer do HIV uma condição de vida, mas há momentos que isso é difícil.

            A doença ainda não se manifestou no meu organismo, portanto eu ainda não sei o que é de fato, ser portador do HIV. Mas uma coisa eu posso afirmar – não é fácil.
            É triste acordar todos os dias e saber que o inesperado me espera. Entendo que independentemente da sorologia de cada um, ninguém sabe como será o amanhã, mas no meu caso eu fico imaginando, elocubrando (...) Me assusto quando me vejo deitado numa cama de hospital em meio aos meus devaneios.

            Tenho medo de morrer sem ter convivido com o meu filho. Cada dia que eu passo longe dele, é como um dia sem vida. Cada vez que tenho notícias dele, fico imaginando se ele está bem sem a minha presença.

            Sinto-me péssimo em saber que diante de tantos sofrimentos que minha mãe já teve de passar na vida, eu ainda a “presenteio” com a minha homossexualidade e minha sorologia. Ser gay não é doença, não é problema, - mas nenhuma mãe deseja que o filho seja gay, eu pelo menos não desejo isso ao meu meninão – e sei também que não sou isento da culpa de ter o vírus. O meu maior erro foi confiar. Carrego este peso comigo. Não sou uma má pessoa, não sou promíscuo, drogado e ou irresponsável. Mas não posso afirmar que fui um filho exemplar. Ela vive me dizendo que eu a encho de orgulho diante da minha luta, tanto pessoal quanto profissional; mas será?

            Não me arrependo de nada do que fiz, mas se eu pudesse voltar no passado e reescrever a minha história, com certeza eu tentaria fazer tudo diferente. Infelizmente o Efeito Borboleta, só acontece em Hollywwod.

            Mas também não posso culpar a doença em 100%. O HIV me mostrou que a vida é muito mais do que simplesmente vivê-la, a vida é VIDA! Me mostrou que amigos são importantes, mas que a família é fundamental, indispensável e insubstituível. Somente hoje é que eu olho para mim com mais cuidado, vejo que não sou apenas um corpo e sim uma vida.

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