quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

VIVA 2010

Aqui estou eu de volta, após um tempo sem escrever.

Tantas coisas aconteceram, tantas mudanças radicais que há momentos que acho que não conseguirei lidar com isso tudo de uma forma racional. Farei uma breve retrospectiva do turbilhão de emoções que venho tendo desde dezembro de 2009.

DEZEMBRO

            Foi numa noite de sexta feira, enquanto eu estava respondendo a alguns scrapts do Orkut, quando o meu celular toca. Era o Edu no celular dizendo que estava em frente de casa. Fui abrir o portão, assim que fechei o portão demos um selinho e viemos para o meu quarto. Ele já chegou cheio de mimos, querendo me levar para sair, pedindo para eu escolher o lugar e etc; conhecendo-o com eu o conheço em quatro anos de relacionamento, sem pestanejar perguntei, “Vai, desenbucha”, ele me olhou meio aturdido. “Como assim?”, ele me perguntou. Chegar carinhoso e querendo me agradar daquela forma, alguma coisa ele queria me dizer. Final de ano chegando, férias...Eu já sabia o rumo daquela conversa.
            “Deita aqui comigo, quero conversar com você. É sobre o fim do ano”.

BINGO

            “Estou pensando em ir passar as férias em Natal...”, interrompi-o imediatamente. “Eduardo, se eu bem o conheço você jamais viria com este papo para me pedir autorização, ou, pelo o seu tom de voz e penar nos olhos, certamente eu não estou incluso nesta sua viagem”. Ele ficou por alguns minutos me olhando, meio assustado, até que o silêncio foi quebrado por ele. “Nem eu me conheço da forma como você me conhece”. Aquilo para mim foi o bastante e não quis mais ouvir nada. Após o anúncio dele eu simplesmente disse que então iria para o Rio de Janeiro. Momento este em que toda a história mudou de rumo, sim porque, enquanto apenas ele iria viajar tudo estava certo; quando viu que eu não havia dado a menor bola e anunciei que iria para o Rio, o jogo virou. Ficou todo estrassadinho e argumento com que dinheiro eu iria para o Rio de Janeiro, e respondi que isso fugia da alçada dele.
            Pois bem. Para que todos possam entender esta história como ela de fato aconteceu, eu terei que voltar até o mês de outubro quando o Eduardo e eu estávamos separados.

            Durante a turnê de uma famoso peça teatral, com alguns globais no elenco, eu conheci o produtor do espetáculo que é também ator convidado, na Gambiarra, balada esta que eu amo. Acabou que ficamos naquela noite, mas apenas beijo. Assim que a balada acabou cada um seguiu o seu destino. Para não fugirmos do clichê trocamos Orkut, MSN, e-mail e telefones. Pronto, não havia mais como nos perdemos. No dia seguinte ele me liga convidando-me para ir ver a peça que estava em cartaz no Teatro do Shopping Frei Caneca, em São Paulo. Eu estava em meio a loucura de pré – estréia da minha peça, os ensaios a mil por hora, texto e marcação ainda em estudo e com isso não pude ver a peça, mas ficamos de nos encontrar depois das 22hr para batermos um papo.
            Fui encontrá-lo no teatro Frei Caneca e lá conheci os atores e produção da peça. Todos muito simpáticos e engraçados. Bem verdade que eu não estava tão a fim de ficar com ele, fui mais como forma de amizade mas é claro que na “ingenuidade”, porque ele tinha todas as demais intenções. Saímos do teatro e fomos com o elenco para o hotel. Fiquei com ele no quarto esperando-o tomar banho, (nada aconteceu). Descemos para o hall e seguimos para o restaurante Planetas na Avenida Augusta. Jantamos, conversamos, demos muitas risadas com o elenco, tiramos diversas fotos e decidimos dar uma esticadinha na noite. Subindo a Augusta, um dos atores viu Julia Lemmertz num barzinho dançando com outros atores que também estavam em cartaz em São Paulo. Foi cumprimentá-la e todos nós fomos convidados para a festa fechada que estava havendo no Bar que não me lembro o nome agora, mas fica na Augusta. Dançamos e bebemos a noite toda. Aquelas alturas o meu destino já era inevitável...Dormir no hotel e com o produtor.
            No dia seguinte eu me levantei logo cedo e fui para o ensaio do meu espetáculo que ficava na Rua da Consolação. Ensaiei a tarde toda e nos encontramos novamente a noite. Levei alguns atores da minha Cia. para vermos a peça dele. Rimos do inicio ao fim, realmente muito boa. No fim da peça levei os meninos e meninas ao camarim, apresentei ao elenco e eles se foram. Fiquei lá para ajudá-los a arrumar o camarim e retirar as coisas porque era o último dia da temporada da peça em São Paulo. Fomos ao hotel novamente e depois jantar.

Resumindo: segunda feira chegou, eles voltaram para o Rio e eu fiquei na minha pacata cidade interiorana paulista.

VOLTANDO AO MEU QUARTO

            Mesmo eu tendo voltado com o Eduardo após este fato, coisa que aconteceu uns dez ou quinze dias depois, eu ainda continuava mantendo contato via MSN e facebook com o produtor. Foram vários os convites que ele me fez para passar o ano novo no Rio e ficar hospedado na casa dele. Quando o Eduardo me deu a notícia de que iria viajar, eu coloquei em mente que ia para o Rio e aceitaria o convite do Produtor. Sou taurino, raça vingativa. O relacionamento estava uma drogada desde que eu descobri ser soropositivo, ele estava comigo por pena e eu na minha carência doentia sabia e acatava. Mas aquela notícia dele me excluindo das férias me fez ter um estalo. Sabe quando o Tico bate no Teço e você para e pensa no que está sendo a sua vida? A minha estava sendo uma droga.
            Os dias foram passando e ele não estava convicto de que eu iria mesmo para o Rio de Janeiro. O produtor amou a idéia de eu ir e de imediato me deu as passagens áreas de ida e volta. Claro que eu disse ao Eduardo que foram meus amigos atores que haviam me dado, o que o deixou completamente irritado. Ele vivia batendo na tecla, “Nossa! Quero ter amigos assim que me hospedam e me dão passagem área”, eu que não sou de levar desaforos para a casa retrucava, “O que eu posso fazer se o único que não me ama é você. Este é o preço a se pagar em ter um namorado que mesmo tendo AIDS é amado por muitos, enquanto você que goza da mais plena saúde não tem amigos nenhum”. PLOFT. Um tapa na cara. Até o dia da minha viagem o nosso namoro se afundou numa crise sem volta, ambos sabiam disso, mas um não queria dar o braço a torcer para outro. Nos planos estavam, ir para o Rio dia 28 e voltar somente dia 20. Ficar quase um mês curtindo e me divertindo demais, e superar os sete dias em Natal dele. Mas aí algo bom e surpreendente me aconteceu. Fui contrato numa grande empresa da minha cidade. Havia feito a entrevista a cerca de três meses atrás e nem me lembrava mais. No dia 18 eles me ligam. Fiquei ultra feliz mas na mesma hora pensei, “acabou-se a minha viagem”. No dia da contratação questionei-os dos dias que a empresa ficava parada para as festas e usei de toda a minha arte de atuar...Resultado. Fui contratado, trabalhei do dia 18 ao 24 até meio-dia, e a empresa me deu sete dias. Voltei no dia 03 e soube esta semana que eu receberei estes dias, porque eu aleguei ter dado a vaga como perdida e programado a minha viagem, comprado passagens aéreas e hotel, e iria perder todo o dinheiro. No fim tudo deu certo.

A VIAGEM

            Primeiro que eu nunca tinha voado em avião comercial, somente em jato, teco teco, helicóptero e etc. Quando jovem eu acompanhava o meu tio nas aulas de vôo, ele é piloto da TAM, e andava pra cima e pra baixo de todos os tipos de avião, exceto os comerciais. A adrenalina foi a mil, quando ele começou a subir e Guarulhos passou a ficar pequenino eu comecei a rezar feito louco implorando para que Deus não fizesse com que aquela coisa caísse. Fora isso eu estava indo em direção a um dos meus maiores sonhos, conhecer o RIO DE JANEIRO.


            Não há muito que dizer do Rio, além de que a cidade era muito mais daquilo do que eu imaginava. Ficar em Ipanema, andando pelo o calçadão de Copa e Ipa a noite foi uma das coisas mais prazerosas que eu já fiz em minha vida. Fiquei em estado de completo fascínio pelo o Arpoador. Ver o por do sol de Ipanema do alto daquela pedra, é uma sensação única e inexplicável.  Pela primeira vez desde que descobri a minha sorologia, eu me sentia VIVO. Ficar horas sentado naquela pedra, ouvindo o som do mar, vendo os navios passarem, os surfistas curtindo suas ondas e o vento batendo em meu rosto, fez com que eu fizesse uma análise da minha vida. Do que eu vinha sendo até aquele momento e o que eu gostaria de vir a ser. A primeira coisa era definir as pendências da minha vida. Eu estava decidido a terminar de vez com o Eduardo assim que eu chegasse de viagem; focar minha vida no meu novo trabalho e ser feliz. Me abrir sem medo para uma nova paixão, viver e sentir aquela sensação de prazer que o amor nos dá, tudo outra vez. Muitos fariam o contrário, canalizaria esta nova energia no seu próprio eu...Mas eu não sou assim. Posso parecer promiscuo e safado com minhas declarações, mas não sou. Pelo o contrário. Sou romântico ao extremo e o que tirou a minha personalidade foi este relacionamento nada saudável que enfim se findou.
            E decidido a ter vida nova e antes de engatar qualquer outro relacionamento, eu fui direto e reto com o produtor. Disse que havia aceitado o convite dele, mas como amigo. Condição que ele acatou na maior e disse que em momento algum forçaria nada comigo porque gostava de mim como amigo mesmo e que era para deixarmos as coisas acontecerem. Isso foi muito bacana da parte dele, porque eu me sentiria vendido em ter que ir para o Rio sob a condição de ter que ficar com ele. Com isso resolvido decidi que minha passagem pelo Rio seria inesquecível. Sai todas as noites, conheci as madrugadas do Arpoador (kkkkkkkk). Fiquei com alguns caras e transei com outros. Enfim, sexo. Depois de um recesso animal, eu estava transando como louco. Me cuidando e cuidando de quem estava comigo. Nos dois primeiros dias foi legal aquela independência de tomar um banho, se arrumar e sair para pegar um corpo. Mas logo fui percebendo que definitivamente eu não nasci para levar esta vida. Se fico com um cara hoje, já o quero perto de mim para sempre.
            A parte gay de Ipanema foi maravilhoso. Azarar na praia com o sol a pino e beijar, andar de mãos dadas, tomar sol juntinho e nadar como um casal de hetero me fez ver que era aquilo o que eu queria para mim. Um novo amor para poder voltar naquela cidade, naquela praia e refazer aquilo tudo com alguém que fosse dono do meu coração. Foi então que resolvi quebrar o maior tabu que eu carregava até então e me fazer entender o Eduardo. Decidi conhecer e sair com outros caras que fossem soropositivos. Só então entendi o Eduardo, porque mesmo eu tendo HIV, eu não via preparado para ir para cama com um outro portador.

DE VOLTA A MINHA TERRA

            Voltei no dia 02 de janeiro. Tive uma semana inteira de trabalho e elogios pelo o meu bronze, o que levantou o meu ego. Estava sendo feliz com a muito não vinha sendo. Me sentia bem e amado por mim mesmo. A viagem foi a magia que eu precisava para a minha vida. O Eduardo voltou no dia 08 de madrugada. Dia 9, domingo, ele veio até a minha casa para conversarmos, porque eu havia mandado um torpedo. Confesso que dizer a ele que era o fim não foi tão fácil como eu pensei. Chorei muito e ele também, e no final ninguém terminou com ninguém. Porém, assim que ele chegou na sua casa me deixou um depoimento no Orkut dizendo que era mesmo o melhor a fazer. O que direi é a coisa mais surreal do universo, mas eu fiquei péssimo quando li as coisas que ele me escreveu. Eu estava preparado para dizer e não para ouvir e ou ler. E ali, naquele momento, um relacionamento de 4 anos, 2 anos de casados, terminou via Orkut.

HOJE

            Fez-se um mês que o nosso namoro terminou. Eu estava vivendo aquela fase de ficar quietinho em casa, curtindo a minha família e me curtindo. Hoje já estou começando a sair para alguns Happy Hours com os amigos do meu trabalho. Não tenho pressa em arrumar um novo amor, mas já me sinto apto para tal. O Eduardo é uma história que ficou enterrada lá atrás. Tive momentos maravilhosos ao lado dele, fomos felizes até onde durou e isso é o que importa. Ele continua vivendo os fantasmas da vida dele e mês que vem irá refazer seu exame de HIV. Deus sabe o que faz. Hoje somos amigos cibernéticos. Ora ou outra um escreve para o outro, mas tudo muito pacificamente e numa boa. Engraçado como vejo nele um amigo, apenas isso, um amigo. Está certo que ele é genioso e me provocou, mas já nos acertamos e a vida de ambos seguem o seu curso.

            Neste último fim de semana eu passei mal e fui para o hospital, mas nada em relação ao HIV. Sempre tive uma gastrite horrorosa e ela atacou. Mas a noite mesmo eu já estava bem e em comum acordo, resolvi me encontrar com um dos caras do Radar. Foi maravilhoso. Um cara apaixonante, lindo...fizemos amor, conversamos e descobrimos grandes afinidades, mas este não é o momento dele. Ele ama uma outra pessoa e eu não quero ser [o cara que faz esquecer uma paixão mal resolvida]. Quero ser a novidade, o novo, a descoberta a nova história.
            Estou aqui, vivendo a minha vida e trabalhando muito. Rindo, cantando, dançando e sendo feliz. Confesso estar preparado para um novo romance, mas deixarei que as coisas aconteçam. Não vou correr atrás, simplesmente deixar com que tudo aconteça.

É isso pessoal.
Bjos a todos os meus amigos blogueiros e claro – FELIZ 2010 A TODOS NÓS.


UM POUCO DA MINHA VIAGEM MÁGICA

ARPOADOR - MOMENTO DE DECISÃO



LAGOA RODRIGO DE FREITAS



EU, SOB O POR DO SOL DE IPANEMA


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